O número 23 da revista Panorama (revista Portuguesa de arte e turismo)
de 1945, volume 4º, apresenta um artigo intitulado “ALGARVE - grande zona
turística do futuro”, no qual são referidas varias povoações do Algarve, e a referência
a Monchique é a seguinte:
“A flora algarvia é riquíssima,
de surpreendente variedade. Junto do litoral, predominam os pinheiros mansos,
baixos e de espessas copas; nas serranias abundam os sobreiros, os azinheiros e
os medronheiros, encontrando-se ainda noutras zonas – principalmente nas terras
de Monchique – carvalhos e castanheiros. Ninguém ignora que a figueira é uma
das mais típicas espécies botânicas da província, mas poucos sabem que a
paisagem algarvia é valorizada por outro atractivo singular: a adelfeira (ou
loendro), pequeno arbusto de flores cantantes e de macia folhagem que prefere
adornar as margens bucólicas dos ribeiros.”
Um outro artigo designado “NOTA SÔBRE O ALGARVE” compreende a seguinte
alusão a Monchique:
“Caso àparte é a serra de Monchique
onde a constituição geológica do solo (granito e rochas granitoides aflorando
isoladas no meio do primário), a altitude, latitude e disposição do relêvo,
conjugando-se, permitem que se associem variedades de vegetação e vida que, no
resto do país, só separadamente e em pontos muitos diversos se podem observar.”
Capa da Revista com gravura das Caldas de Monchique do século XIX
Em 23 de Janeiro de 1932, o então Ministério do Comercio e Comunicações de que a estância das Caldas de Monchique dependia, nomeia uma comissão para realizar melhoramentos de acordo com o Decreto-Lei 20.816, mas só em 21 de Abril de 1937 o governo decretou que a comissão administrativa iniciasse funções, de acordo com o Decreto nº 27.659 do Ministério do Comercio e Industria. De 1939 a 1946 foram concedidas, pelo Ministro do Comércio e Industria, verbas para as expropriações dos edifícios a demolir para realização das obras de captação das nascentes e reconstrução de um balneário.
Nesta época de grandes transformações no estabelecimento Termal das Caldas de Monchique continuaram os tratamentos médicos, como se pode verificar no seguinte exemplo de um boletim de inscrição médica de 1941.
Boletim de Inscrição
Prescrição Médica
Bibliografia: COSTA, José de Sousa. 1957. Alguns elementos para a elaboração do programa de edificação do Hospital das Caldas de Monchique. 74pp.
De acordo com a lenda que se conta por Monchique, este convento deve-se a uma promessa feita por dois navegantes que se achavam em perigo no alto mar. Caso se salvassem, construiriam uma igreja no primeiro lugar de terra que fosse avistada. Na realidade, sabe-se que o Convento de Nossa Senhora do Desterro foi fundado em 1631 por Pero da Silva, “O Mole”, nomeado 24º vice - rei da Índia a 13 de Abril de 1635. A 20 de Março de 1632, toma posse do convento a Ordem Terceira regular de S. Francisco, tendo inicialmente uma comunidade de 11 irmãos e da qual era provincial o Frei Manuel de Santo António. Com o Terramoto de 1755, que provocou na Vila danos consideráveis, o convento foi um dos edifícios mais afectados tendo a sua abóbada ficado totalmente destruída. Mesmo assim, e por testemunho de dois viajantes que passaram por Monchique em 1798, viviam ainda no convento cinco frades, cujo patrono do edifício era agora o sétimo conde de S. Lourenço que nunca chegou a mandar a sua reparação. Na sequência das lutas liberais e posteriormente com a extinção das ordens religiosas em 1834, o convento foi encerrado e todas as suas funções religiosas e de assistência e caridade foram desactivadas. Como consequência, os seis belos retábulos de talha que enriqueciam a Igreja do convento foram distribuídos por duas igrejas de Monchique – a Matriz e a Misericórdia – e ainda pela Igreja Matriz de Aljezur. Em 1842, o edifício foi vendido em hasta pública, “sendo arrebatado pela família liberal Guerreiro Gascon, que já possuía outras propriedades nas imediações”. (José Rosa Sampaio) Construído na linha do barroco nacional e com reminiscências manuelinas, o convento, actualmente em ruínas, situa-se num local bastante aprazível de onde se desfruta uma bela paisagem sobre a vila e arredores. A maior magnólia da Europa, uma árvore multicentenária e que consta ter sido trazida da índia pelo fundador Pero da Silva, encontra-se ali bem perto do convento.
O Convento de Nossa Senhora do Desterro esteve classificado como Imóvel de Interesse Municipal, publicado em despacho a 6 de Julho de 1981. Porém, actualmente, devido a alterações na legislação, o edifício encontra-se sem qualquer tipo de protecção legal.
Fachada principal do Convento
Símbolo das armas do fundador Pero da Silva, gravadas sobre o arco da entrada
Capela principal, na qual estava a imagem de Nossa Senhora do Desterro, Orago do Convento
Capela Lateral
Alguns dos Azulejos ainda existentes no interior do convento
Fonte dos Passarinhos
Bibliografia:
GASCON, José António Guerreiro, Subsídios para a Monografia de Monchique, 1993;
SAMPAIO, José Rosa, Antigas Igrejas e Conventos do Concelho de Monchique, 2008;
MARADO, Catarina Almeida, Antigos Conventos do Algarve, 2006;
A Igreja Matriz de Monchique, também designada por Igreja de Nossa Senhora da Conceição é o principal monumento do Concelho, destacando-se em parte pelo seu monumental e inigualável pórtico principal de época Manuelina.
Não se sabe ao certo a data da sua construção, mas o inicio das obras terão ocorrido durante o reinado de D. Afonso V (Século XV) e talvez sobre a anterior mesquita que existira em Monchique, visto serem visíveis “algumas reminiscências modejares, postas pelos artificies mouriscos locais que nele terão trabalhado” (José Rosa Sampaio).
Em Outubro de 1495, aquando da passagem de D.João II por Monchique, o templo é consagrado por esse rei, cujo acontecimento vem descrito na “Memória Paroquial” de 1758 pelo prior António de Figueiredo Aragão. Contudo, isto não prova que a Igreja já estivesse totalmente concluída nessa data.
Entrada e vista parcial da Igreja
O terramoto de 1755 deixou o edifício praticamente destruído, ficando apenas em pé a parede norte. Segundo a “Memória Paroquial” de 1758 “(…) ficou a igreja deste lugar bastante arruinada, e caindo-lhe a abóbada da capela-mor, a tribuna e torre e sacristia da mesma, e arruinou com a sua caída muita parte dos seus telhados (…)”. Na sequência desta catástrofe a Igreja Matriz esteve, portanto, vários anos fechada ao culto, tendo passado essa função para a Igreja da Misericórdia, visto ter sido o único templo religioso que não sofreu danos graves. De planta longitudinal, a igreja é constituída por três naves de cinco tramos definidos por arcos assentes em colunas hexagonais. Existem ainda mais dois portais secundários igualmente do período Manuelino, mas decorativamente mais simples quando comparados com o principal. A Igreja Matriz está classificada como Imóvel de Interesse Público (IIP) desde 1997. Foi alvo de algumas obras de intervenção, tendo a mais recente ocorrido em 1994.
Interior da Igreja
Pórtico principal da Igreja, de Época Manuelina
Imagem de postal ilustrado dos anos 30 com pormenor para a janela
quadrada, onde actualmente existe um vitral, visível na primeira
imagem.
Imagem de postal ilustrado dos anos 60 - Vista parcial de Monchique
Bibliografia:
SAMPAIO, José Rosa, Igreja Matriz de Monchique – Os Quinhentos anos da sua História (1495 – 1995);
GASCON, José António Guerreiro, Subsídios para a Monografia de Monchique, Algarve em Foco Editora, 1993;
Folheto
publicitário do “Estabelecimento Thermal de Monchique” de 1884,
inserido no relatório do mesmo ano “sobre o estado e necessidades do
estabelecimento, sua historia, uso das aguas e analyse da estatistica”
de João Bentes Castel-Branco.
Tem o seguinte texto introdutório que se mantém bastante actual:
“Entre florestas que se estendem muito além da Villa de Monchique,
ergue-se na encosta sul da montanha denominada Picota,
o ESTABELECIMENTO THERMAL
a seis kilometros de Monchique e a vinte de Portimão.
O terreno bastante acidentado apresenta paisagens tão pittorescas,
que por muitos amadores tem sido classificada esta região
como sendo a que em Portugal encerra mais belezas naturaes.
Á belleza dos arrebaldes junta-se a pureza das aguas geralmente férreas
e tão boas que são transportadas a mais de trinta kilometros
para consumo das familias.
Taes predicados só por si têem feito, com razão,
Com que alguns dos poucos medicos portuguezes conhecedores d’esta região
Mandem para aqui os seus doentes escrofulosos, anemicos,
chloroticos e tuberculosos procurar allivio ás suas enfermidades,
à similhança do que em Inglaterra e na Allemanha se pratica com a Suissa.
As Thermas frequentadas desde tempos immemoriaes
pelo conhecimento empirico da sua efficacia contra toda a especie de dores
e outras enfermidades, têem tido nos ultimos annos
uma affluencia superior ás accommodações do estabelecimento,
affluencia que augmentou ainda em 1882 a ponto dedeixarem de frequentar
o estabelecimento muitas familias por falta de casa,
e isto a pezar da falta de commodidades e annuncios, concorrência
que só tem explicação nos bons resultados colhidos pelos enfermos
que procuram o ESTABELECIMENTO THERMAL DE MONCHIQUE.
Adirecção, em vista de tal affluencia tem adoptado um certo numero de medidas
Tendentes a poder accommodar desde já a affluencia actual
Construindo apozentos e creando commodidades e distracções que espera augmentar nos annos próximos.”
Fundado em 1 de Fevereiro de 1926 e dirigido por António Vieira e mais tarde por Manuel de Sousa Costa, O Monchiquense tinha como complemento de título “Quinzenário Regionalista Independente”, sendo publicado nos dias 1 e 15 de cada mês.
Este
jornal surgiu numa altura em que não existia qualquer publicação no
Concelho que divulgasse os seus valores e potencialidades naturais, bem
como os interesses da população. Caracterizava-se pela sua conotação
regionalista e inspiração livre e apartidária.
O Monchiquense destacava-se pelas suas variadas e interessantes secções regulares:
Uma coluna social intitulada “Notícias Várias”;
Duas secções de poesia – “Poesia” e “Perfil”;
“Antiguidades”, onde era divulgado o Património Histórico da Vila de Monchique;
“Interesses Locaes”, apresentando crónicas sobre o desenvolvimento do Concelho;
“Actualidades”, também de crónicas;
“Notas Mundanas”, secção para aniversários, partidas e chegadas, entre outros.
Inicialmente
era impresso na Tipografia Socorro em Vila Real de Santo António, mas
posteriormente passou a ser impresso em Portimão na Tipografia Lumen.
Tinha uma assinatura trimestral de 3$00, aumentando depois para 4$00. Do
seu grupo de colaboradores conta-se a presença de José António
Guerreiro Gascon, António Duarte Lopes, Mário José Estevens, António
Leal ou Elvira Lídia, entre outros. Foi extinto a 12 de Outubro de 1928,
ficando-se pelo número 57.
No artigo de capa do seu primeiro número, O Monchiquense apresentava-se da seguinte forma:
«Monchique
– modesta zangala adormecida entre verdura – ha muito que não tem quem
fale dos seus encantos, quem diga o que ela vale, o que ela é e o que
merece. É esta a razão do aparecimento do nosso modesto quinzenário,
onde tentaremos erguer bem alto a Nossa Terra – e tão alto fosse quanto
nossos corações o desejam! – devotamente A servindo e amando.
Esta
folha, é quási desnecessario dize-lo, não obedece a nenhuma feição de
partidarismo politico; constitui apenas a tentativa bem intencionada de
fazer a propaganda da nossa região, de a defender e pugnar pelos seus
interesses (…)».
Capa do primeiro número do Jornal
Bibliorafia:
MESQUITA, José Carlos Vilhena; História da Imprensa do Algarve – II; Comissão de Coordenação da Região do Algarve, Faro 1989.
A palavra moinho deriva do latim “molinum”, de “molo”, que significa moer, triturar cereais ou simplesmente dar à mó. São engenhos simples que consistem em aproveitar a energia cinética para accionar o sistema de moagem. Os Moinhos de Água surgiram por volta do século II d.C. através dos Romanos que os espalharam pela Europa. Em Portugal, admite-se que introdução e difusão dos moinhos de água tenha sido feita também pelos romanos, cuja possibilidade é confirmada por alguns achados arqueológicos, com destaque para as ruínas de um moinho de rodízio junto da represa romana no lugar de Represa em Beja. Em 1968 contavam-se cerca de 10 mil moinhos ainda em actividade, sendo que 7 mil seriam de água e destes 5 mil eram de rodízio.
No Concelho de Monchique predominavam os moinhos de rodízio, embora as azenhas também fossem utilizadas, porém “o aumento da cultura de cereais por parte de pequenas comunidades levou à crescente expansão dos moinhos de roda horizontal ou rodízio” (José Rosa Sampaio). De acordo com a monografia de José Gascon, sabemos que em 1938 foram colectados 25 moinhos e azenhas.
Foto dos anos 60 de António Callapez, no Livro "Um Olhar a Sul"
Em Monchique existe um moinho de rodízio que foi recentemente recuperado pela Junta de Freguesia, com o objectivo de utilizá-lo como pólo museológico laborando em algumas ocasiões, visto acumular uma série de objectos que apelam à prática da moagem. O Moinho de Água do Poucochinho situa-se na Ribeira do Barranco dos Pisões e tinha como proprietários a Família Poucochinho, pelo que o moinho é assim reconhecido por influência desse nome.
Foto de 2010 de José Carlos Lopes no Livro "Engenhos Tradicionais de Moagem no Concelho de Monchique"
Moinho de Rodízio
Os moinhos de rodízio são assim reconhecidos e designados pela roda motriz horizontal, o rodízio. Este tipo de moinho é construído em dois pisos, o piso de moagem e uma pequena cave situada ao nível da saída de água, onde trabalha o rodízio.
A água que alimenta o moinho é desviada da ribeira para a vala do moinho e aí é represada na caldeira. Ao abrir a comporta a água ganha energia pelo desnível do cubo e ao bater nas penas do rodízio fá-lo girar.
O mecanismo de moagem é constituído por uma mó fixa (o pouso) e uma mó giratória (a andadeira), ambas têm o seu eixo coincidente com o eixo do rodízio. Deste modo, a transmissão do movimento é realizado directamente através do Veio e da Pela que ligam a roda motriz à Mó Andadeira.
Sobre a Mó Andadeira é instalada uma caixa (a moega) na qual são colocados os grãos de cereal, que vão caindo no olho da Mó Andadeira consoante a regulação desejada pelo moleiro.
Elementos de um moinho de rodízio:
Andadeira – Mó com um orifício (olho) no centro, realiza o movimento rotativo.
Pouso – Mó inferior que permanece fixa. Moega – Caixa onde é colocado o cereal para moer. Quelha – Calha ligada á Moega, por onde corre o cereal para o olho da mó. Chamadouro – Acessório fixo à Quelha que se apoia na Mó Andadeira e com a trepidação desta faz o cereal correr da Quelha para o olho da mó. Segurelha – Peça que se encaixa num rasgo da Mó Andadeira, ligando esta ao Rodízio através do Veio e da Pela. Veio – Elemento que prolonga a Segurelha, ligando-a à Pela. Pela – Peça de ligação entre o veio e o rodízio. Rodízio – Roda composta por varias penas (travessas) dispostas radialmente que recebem a impulsão do jacto de água que nelas bate. Cubo – Canal que encaminha a água da caldeira até á Seteira. Seteira – Orifício de saída da água na extremidade do Cubo, orientado para atingir o Rodízio. Aleviadouro – Haste ligada ao Urreiro, regulável, solidária com o mecanismo permite regular a distancia entre as mós e consequentemente a finura da farinha. Urreiro – Trave de madeira colocado no solo, com um topo fixo e o outro ligado ao Aleviadouro.
Esquema de um Moinho de Rodízio
Mó em Funcionamento
Rodízio em Funcionamento
Bibliografia:
SAMPAIO, José Rosa, Engenhos Tradicionais de Moagem no Concelho de Monchique, 2011;
GASCON, José António Guerreiro, Subsídios para a Monografia de Monchique, Algarve em Foco Editora, 2ª Edição, 1993;
A palavra "Cédula" deriva do latim - "Shedula" - que significa pequena folha de papel. Em finanças, o termo consagrou-se para designar todos os documentos de papel emitidos em substituição de moedas metálicas de pequeno valor.
Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) com a escassez de metais como o cobre, bronze e prata utilizados para fins industriais surgiram em Portugal, assim como por toda a Europa, cédulas de valores muito baixos. Estas eram normalmente emitidas por Câmaras Municipais, Misericórdias e Hospitais, Juntas de Freguesia, Associações comerciais e outras instituições, cafés e variadíssimas casas comerciais.
Em Monchique, segundo o "Catálogo Geral de Cédulas de Portugal" existiram três séries emitidas pela Câmara Municipal.
Primeira Série
Sem data, tinham um única face marcada com um carimbo. Considerado um trabalho caseiro com número e assinaturas manuscritos.
Foram produzidas nos seguintes valores:
1 Centavo;
2 Centavos;
5 Centavos: Cartão Verde (Carimbo Azul);
10 Centavos: Cartão Rosa (Carimbo Azul);
Segunda Série
Designada de "Série A", sem data, tinha uma dupla face com a chancela no verso e numeração manuscrita.