Manuel do Nascimento Correia
nasceu em Monchique a 27 de Dezembro de 1912, estudou numa escola técnica e
logo iniciou a sua actividade profissional junto dos mineiros, cujas reduzidas
condições de vida e trabalho vão ser os temas principais dos seus futuros
trabalhos como escritor. Em “Mineiros”,
seu segundo romance, relata de forma viva o dia-a-dia penoso, as doenças
profissionais e a falta de assistência aos trabalhadores.
A tuberculose era uma
constante naquela pobre gente mal alimentada e Manuel do Nascimento não foi
poupado. Com a saúde abalada, é obrigado a regressa a casa dos pais, em
Monchique, para recuperar forças. É durante este período de recolhimento que se
lança nas suas primeiras aventuras literárias e inspirando-se na sua própria
doença, escreve “Eu queria Viver”, obra na qual Manuel do
Nascimento “põe o seu desejo de lutar contra a mortífera enfermidade nas
palavras e reacções de uma jovem a quem a tuberculose aguça a sensibilidade e
lhe ensina a valorizar determinados aspectos aos quais era alheia.” (Marreiros,
2000).
Quando finalmente se recupera,
parte para Lisboa em busca de novas oportunidades e acaba mesmo por se dedicar
ao jornalismo, ao mesmo tempo que mantem as suas lides literárias. Ao seu
terceiro romance “A Cidade”, segue-se
“O Aço Mudou de Têmpera”, publicado
em 1946, no qual Manuel do Nascimento apresenta-nos uma crónica romanceada da
vida de uma aldeia da Beira durante o período da guerra. O período em que estes
livros aparecem não é o mais apropriado, visto que vigorava em Portugal o
regime salarazista, que impusera, como sabemos, uma acentuada e eficaz censura
a todas e quaisquer oposições ao regime. Luís de Sousa Rebelo, amigo de Manuel
do Nascimento, diz-nos no prefácio de “O
Último espectáculo”, “o que
animava Manuel do Nascimento a escrever era o desejo de representar o mundo tal
qual ele era, nas suas asperezas e contradições, nas suas violências e nos seus
raros vislumbres de doçura. O seu objectivo inicial não era ocupar-se de
questões ideológicas na ficção; elas vieram por acréscimo, por alargamento dos
próprios horizontes e por arrasto na órbita do debate em torno do
neo-realismo.”
Manuel do Nascimento
dedicou-se algum tempo à preparação de “O
Roteiro da Província do Algarve”,
e foi também autor de outras obras como “Agonia”,
de 1954, “O Último Espectáculo”, contos de 1955, “Histórias de Mineiros”, publicadas em
1960, o romance “Cidade de Pedra” e também a novela “Nada de Importância”, ambos sem data de
publicação conhecida. Participou com “Dona
Maria morreu no Outono”, na obra colectiva “Campanha” e ainda escreveu o prefácio do romance “O Segredo de
Luca” do escritor Ignazio Silone.
Inesperadamente, Manuel do
Nascimento, vítima de ataque cardíaco, morreu no meio de desconhecidos, em
pleno comboio da linha de Sintra entre Damaia, onde residia, e Lisboa na
véspera do final do ano de 1966.
Bibliografia:
MARREIROS, Glória Maria, "Quem foi quem? 200 Algarvios do Século XX", Edições Colibri, 1ª Edição, Lisboa, 2000, pp. 339 - 341.