5 de fevereiro de 2013

Ilustres Monchiquenses: Manuel do Nascimento



Manuel do Nascimento Correia nasceu em Monchique a 27 de Dezembro de 1912, estudou numa escola técnica e logo iniciou a sua actividade profissional junto dos mineiros, cujas reduzidas condições de vida e trabalho vão ser os temas principais dos seus futuros trabalhos como escritor. Em “Mineiros”, seu segundo romance, relata de forma viva o dia-a-dia penoso, as doenças profissionais e a falta de assistência aos trabalhadores.

A tuberculose era uma constante naquela pobre gente mal alimentada e Manuel do Nascimento não foi poupado. Com a saúde abalada, é obrigado a regressa a casa dos pais, em Monchique, para recuperar forças. É durante este período de recolhimento que se lança nas suas primeiras aventuras literárias e inspirando-se na sua própria doença, escreve “Eu queria Viver”, obra na qual Manuel do Nascimento “põe o seu desejo de lutar contra a mortífera enfermidade nas palavras e reacções de uma jovem a quem a tuberculose aguça a sensibilidade e lhe ensina a valorizar determinados aspectos aos quais era alheia.” (Marreiros, 2000).

                                                                  Manuel do Nascimento



Quando finalmente se recupera, parte para Lisboa em busca de novas oportunidades e acaba mesmo por se dedicar ao jornalismo, ao mesmo tempo que mantem as suas lides literárias. Ao seu terceiro romance “A Cidade”, segue-se “O Aço Mudou de Têmpera”, publicado em 1946, no qual Manuel do Nascimento apresenta-nos uma crónica romanceada da vida de uma aldeia da Beira durante o período da guerra. O período em que estes livros aparecem não é o mais apropriado, visto que vigorava em Portugal o regime salarazista, que impusera, como sabemos, uma acentuada e eficaz censura a todas e quaisquer oposições ao regime. Luís de Sousa Rebelo, amigo de Manuel do Nascimento, diz-nos no prefácio de “O Último espectáculo”, “o que animava Manuel do Nascimento a escrever era o desejo de representar o mundo tal qual ele era, nas suas asperezas e contradições, nas suas violências e nos seus raros vislumbres de doçura. O seu objectivo inicial não era ocupar-se de questões ideológicas na ficção; elas vieram por acréscimo, por alargamento dos próprios horizontes e por arrasto na órbita do debate em torno do neo-realismo.”

Manuel do Nascimento dedicou-se algum tempo à preparação de “O Roteiro da Província do Algarve”, e foi também autor de outras obras como “Agonia”, de 1954, “O Último Espectáculo”, contos de 1955, “Histórias de Mineiros”, publicadas em 1960, o romance “Cidade de Pedra” e também a novela “Nada de Importância”, ambos sem data de publicação conhecida. Participou com “Dona Maria morreu no Outono”, na obra colectiva “Campanha” e ainda escreveu o prefácio do romance “O Segredo de Luca” do escritor Ignazio Silone.

Inesperadamente, Manuel do Nascimento, vítima de ataque cardíaco, morreu no meio de desconhecidos, em pleno comboio da linha de Sintra entre Damaia, onde residia, e Lisboa na véspera do final do ano de 1966.


                                                      Livros de Manuel do Nascimento



Bibliografia:
MARREIROS, Glória Maria, "Quem foi quem? 200 Algarvios do Século XX", Edições Colibri, 1ª Edição, Lisboa, 2000, pp. 339 - 341.